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Ronaldo Melo Ferraz, Blogueiro

Esta é uma das entrevistas, que surgiram como conseqüência direta do meu Post sobre a Blogosfera (sic!) Brasileira e suas motivações.

O Ronaldo Melo Ferraz, mantém o Superfície Reflexiva, um dos blogs que eu mais tenho prazer em ler.

Caparica:
Quando você começou a "blogar", qual era a sua motivação?

Ronaldo:
Eu comecei a blogar em setembro de 2002, em inglês. Minha motivação era dupla:

Primeiro, eu queria experimentar com o novo meio. Eu começara a ler blogs há alguns meses e achei o formato ao mesmo tempo conveniente e interessante. Não demorou muito e eu quis ter o meu, uma decorrência natural disso e do hábito já existente de escrever.

Em segundo lugar, eu queria melhor meu inglês. Sério mesmo. Era um desafio nesse sentido.

O blog em português nasceu um mês depois quanto eu comecei a comentar mais e receber comentários de outras pessoas. Fazia sentido também.

No final das contas, motivações bem prosaicas. A vontade de ficar rico só veio depois… Bricadeirinha 🙂

Caparica:
Hoje em dia, quais são as suas motivações? Esta relação se modificou de alguma maneira?

Ronaldo:
Hoje em dia, ironicamente, eu sou mais fiel ao nome do meu blog do que no princípio.

Eu escolhi o nome Superfície Reflexiva/Reflective Surface porque tinha lido um post do Don Park alguns meses antes de escrever minha primeira entrada e o texto fez um imenso sentido para mim. Blogs como espelhos interpostos refletindo infinitamente uns aos outros. Ressoou bastante comigo na época.

Nesse sentido, minha motivação primária é encetar conversações. Nada mais interessante do que escrever alguma bobagem e ver o povo martelar seus erros. É claro que meu blog não é tão conhecido ao ponto de gerar um tráfego grande, mas os visitantes são fiéis e eu tento retribuir a conversa com mais conversa, no meu blog ou nos deles. Considerando o meu background filosófico, é uma excelente maneira de me manter afiado também.

Um motivo secundário, e mais egoísta, é mostrar um pouco de conhecimento técnico em algumas áreas. Em um caso específico, por exemplo, SCORM. Tem me rendido uma boa quantidade de contatos que eventualmente resultam em parcerias, negócios, etc.

Não sei se consideraria isso uma evolução do uso da ferramenta, mas definitivamente é uma mudança.

Caparica:
Como você encara a questão do uso de técnicas de SEO para atrair visitantes e o impacto negativo que isto pode ter na credibilidade de um Blog?

Ronaldo:
Essa é uma área da qual eu mantive distância propositadamente.

Na verdade, eu não me importo com promoção e auto-promoção e qualquer coisa válida que seja feita nesse sentido. Mas realmente eu tenho um certo desprezo por qualquer técnica ou hábito que viole as regras ditas ou não-ditas da Web. Apesar de que falar em regras e Web chega quase a ser uma contradição em termos. Talvez tenha mais a ver com ética e respeito pelo espaço alheio.

Como muito do que é considerado SEO viola essa premissa, eu realmente não tenho um conceito muito alto de blogueiros que usam essas técnicas e/ou ferramentas mesmo que de maneira "limpa". Também, a julgar pelos blogs que eu leio, há realmente um impacto negativo geral. O blogueiro acaba ficando marcado por causa de qualquer deslize.

No final das contas, para algumas coisas, a linha é muito tênue. Sendo assim, cada caso é um caso.

Caparica:
Em algum momento você já pensou em encarar o seu Blog como um empreendimento? Algo que tivesse como objetivo o lucro financeiro?

Ronaldo:
Explicitamente, não. Implicitamente, por acaso.

Houve uma época em que eu tinha uma quantidade suficiente de visitas/hits por dia para justificar até mesmo o mais básico–algo como o AdSense, por exemplo. Mas nunca quis colocar nada no blog que fosse explicitamente comercial. Uma das razões é que eu sou meio que um meio paranóico. Não quero nada do meu blog que esteja à mercê de terceiros. Comentários exclusos dessa consideração, é claro.

Apesar disso, eu considero que o blog me dá retorno financeiro. Como disse na segunda reposta, um dos objetivos é expor algum conhecimento. Isso sempre me trouxe resultados financeiros diretos. Em 2004, por exemplo, minha receita indiretamente atribuível ao blog representou 25% da minha renda anual. Com a parada do blog ao longo de 2005 e 2006, o número caiu, é claro. Mas ainda continua tendo bastante contatos por causa do blog. Mas nunca, que me lembre, fiz algum comentário explícito no blog procurando serviço ou algo similar. 

Caparica:
Que parte da "Atividade de Blogar" te proporciona mais prazer?

Ronaldo:
Sem dúvida a formação de relacionamentos.

Eu sou um cara bem tímido e o blog fornece um modo ideal de conhecer outras pessoas. Triste, mas verdadeiro. 🙂

Existe em volta disso toda uma questão de troca de influências. Eu sempre gosto quando meus textos influenciam outras pessoas, e gosto igualmente de ler um texto poderosamente escrito que me influencia em troca. Esse tipo de coisa é o melhor de todos os mundos para mim.

Eu lembro de estar em uma fase meio depressiva algum tempo atrás, e encontrei, por um incrível acaso, uma entrada de um cara americano inglês comentando sobre uma entrada que eu tinha feito em um outro dos meus blogs. Ele tinha salvo o meu texto para ler quando ficava mal e desanimado. Eu não poderia expressar o quanto aquilo significou para mim naquele momento. Alguém que eu nunca vi nada vida tinha guardado algo que eu escrevi para se animar. Absolutamente incrível.

É isso que faz tudo vale a pena.